quinta-feira, 19 de março de 2015

O metodo

CAPÍTULO 1 A Revelação de um Novo Caminho Roberta era uma paciente de psicoterapia que, a 15 minutos da nossa primeira sessão, me fez sentir completamente ineficaz. Viera até mim com uma meta muito específica: queria parar de ficar obcecada com a infidelidade do namorado. “Eu leio as mensagens dele, faço verdadeiros interrogatórios; às vezes até vou à casa dele para espioná-lo. Nunca encontro nada, mas não consigo me controlar.” Achei que o problema dela fosse facilmente explicável pelo fato de que seu pai abandonara a família de forma abrupta quando ela era criança. Mesmo agora, aos vinte e poucos anos, ainda tinha pavor de ser abandonada. Porém, antes de podermos analisar a questão mais a fundo, ela me olhou nos olhos e exigiu: “Me diga agora como parar com essa minha obsessão. Não perca meu tempo nem meu dinheiro me explicando por que eu sou insegura – eu já sei.” Se Roberta viesse me ver hoje, eu ficaria exultante por ela saber exatamente o que queria e não teria dúvidas sobre como ajudá-la. Contudo isso foi há 25 anos, quando eu estava começando minha carreira como psicoterapeuta. Senti a franqueza de seu pedido me atravessar como uma flecha. Não tive resposta. Não me culpei. Passara dois anos devorando todas as teorias correntes sobre a prática da psicoterapêutica. No entanto, quanto mais informações eu digeria, maior a minha insatisfação. As teorias pareciam distantes da experiência real que alguém teria se estivesse em apuros e precisasse de ajuda. Meus instintos me diziam que eu não havia aprendido uma maneira direta de responder aos pedidos de uma paciente como Roberta. Pensei na possibilidade de que essa habilidade não seria descrita num livro; talvez só pudesse ser aprendida em conversas cara a cara com alguém que tivesse passado por isso. Eu havia desenvolvido laços estreitos com dois de meus supervisores – além de me conhecerem bem, tinham muitas décadas de experiência clínica. Certamente deveriam ter desenvolvido alguma maneira de atender a esse tipo de solicitação. Descrevi-lhes a exigência de Roberta. Suas respostas confirmaram meus piores medos. Não tinham solução. E o que era pior, o que me parecia um pedido razoável era visto por eles como parte do problema dela. Usaram diversos termos clínicos: Roberta era “impulsiva”, “resistente” e “ansiava por satisfação imediata”. Se eu tentasse atender suas necessidades imediatas, alertaram, ela se tornaria na verdade mais exigente. Unanimemente, me aconselharam a guiá-la de volta à sua infância – lá encontraríamos a causa original da obsessão. Eu lhes disse que ela já sabia por que era obsessiva. A resposta deles foi que o abandono pelo pai não poderia ser a verdadeira razão. “Você tem de ir ainda mais fundo na infância dela.” Eu estava cansado dessa embromação. Já ouvira tudo isso antes – toda vez que um paciente fazia um pedido direto, o terapeuta rebatia, dizendo ao paciente para “ir mais fundo”. Era um jogo que usavam para esconder a verdade: em se tratando de ajuda imediata, esses terapeutas tinham muito pouco a oferecer a seus pacientes. Além de estar decepcionado, eu tinha a péssima sensação de que eles estavam falando por toda a categoria – certamente nunca ouvira ninguém dizer algo diferente. Não sabia a quem recorrer. Então a sorte me sorriu. Um amigo me disse que conhecera um psiquiatra que discordava do sistema tanto quanto eu. “Esse cara responde de fato às suas perguntas, e eu garanto que você nunca ouviu essas respostas antes.” Ele estava apresentando uma série de seminários, e decidi assistir ao seguinte. Foi então que conheci o dr. Phil Stutz, o coautor deste livro. Aquele seminário mudou minha prática profissional – e minha vida. Tudo na maneira como Phil pensava me pareceu completamente novo. E o mais importante: meus instintos me diziam que era a verdade. Ele era o primeiro psicoterapeuta que conheci cujo foco era a solução, não o problema. Tinha absoluta confiança em que seres humanos possuem forças inexploradas que lhes permitem resolver seus próprios problemas. Na verdade, sua visão dos problemas era oposta à que me fora ensinada. Ele não os via como um obstáculo para o paciente, mas sim como oportunidades de entrar nesse mundo de potencial inexplorado. A princípio, eu estava cético. Já ouvira falar em transformar problemas em oportunidades, mas ninguém jamais apresentara um método para fazê-lo. Com Phil, tudo era claro e concreto. Era preciso explorar recursos latentes por meio de certas técnicas poderosas, porém simples, que qualquer um pudesse utilizar. Chamou essas técnicas de “o Método”. Saí daquele seminário tão empolgado que me sentia como se pudesse voar. Não era apenas pelo fato de existir um método real que poderia ajudar as pessoas; era algo na atitude de Phil. Ele estava se expondo e expondo suas teorias e ferramentas para o mundo. Não exigia que aceitássemos o que estava dizendo; insistia apenas em que utilizássemos de fato suas ferramentas e chegássemos às nossas próprias conclusões sobre o que elas eram capazes de fazer. Praticamente nos desafiou a provar que estava errado. Pareceu-me muito corajoso ou louco – possivelmente ambos. De qualquer maneira, teve um efeito catalisador sobre mim, como uma lufada de ar fresco após o dogma sufocante de meus colegas mais tradicionais. Vi de modo ainda mais claro quanto se escondiam atrás de um muro impenetrável de ideias intrincadas; ideias essas que não sentiam a necessidade de testar ou experimentar por si próprios. Eu só aprendera uma ferramenta no seminário, mas assim que saí pratiquei o Método religiosamente. Mal podia esperar para apresentar a ferramenta a Roberta. Tinha certeza de que a ajudaria mais do que analisar seu passado mais a fundo. Em nossa sessão seguinte, eu disse: “Aqui está algo que você pode fazer no momento em que começar a ficar obcecada”, e dei-lhe a ferramenta (que apresentarei mais tarde). Para meu espanto, ela adotou-a e começou a usá-la de imediato. Ainda mais espantoso, funcionou. Meus colegas estavam errados. Dar a Roberta algo que ofereceu ajuda imediata não a deixou mais exigente e imatura, mas inspiroua a se tornar uma participante ativa e entusiasmada de sua terapia. Num espaço de tempo muito curto eu deixara de me sentir inútil e passara a ter um impacto muito positivo sobre alguém. Fiquei sedento por mais – mais informações, mais ferramentas e um entendimento mais profundo de como funcionavam. Seria isso apenas uma miscelânea de diferentes técnicas ou o que eu suspeitava: uma maneira totalmente nova de entender os seres humanos? Num esforço para obter respostas, comecei a monopolizar Phil no final de cada seminário e extrair dele o máximo de informações possível. Ele era sempre cooperativo – parecia gostar de responder perguntas –, mas cada resposta levava a outra pergunta. Senti-me como se tivesse encontrado uma mina de informações e queria levar para casa o tanto quanto pudesse. Estava insaciável. O que me levou a um problema. O que eu estava aprendendo com Phil era tão poderoso que eu queria que estivesse no centro de meu trabalho com pacientes. Porém não havia nenhum programa de treinamento no qual pudesse me inscrever, nenhuma barreira acadêmica a ser superada. Nesse tipo de coisa, eu era bom, mas ele parecia não ter nenhum interesse nisso. Fiquei inseguro. Como me qualificaria para ser treinado? Será que ele sequer me consideraria como candidato? Será que eu o estava aborrecendo com minhas perguntas? Pouco depois de eu ter começado a apresentar os seminários, esse camarada empolgado chamado Barry começou a aparecer. Com alguma hesitação, identificouse como terapeuta, embora, pela maneira detalhada como me interrogava, soasse mais como um advogado. O que quer que fosse, era muito inteligente. Porém não foi por isso que respondi a suas perguntas. Inteligência e credenciais nunca me impressionaram. O que me chamou a atenção foi seu entusiasmo; como fora para casa e utilizara ele mesmo as ferramentas. Não sabia se era apenas impressão minha, mas tive a sensação de que ele estivera buscando algo há muito tempo e finalmente o encontrara. Então ele me fez uma pergunta que ninguém fizera antes. “Eu estava pensando... quem te ensinou essas coisas... as ferramentas e todo o resto? Os cursos que fiz nunca abordaram nada sequer parecido.” “Ninguém me ensinou.” “Quer dizer que foi você mesmo quem inventou isso?” Hesitei. “Foi... bem, não exatamente.” Eu não sabia se deveria contar a ele como eu realmente obtivera as informações. Era uma história um tanto incomum. Mas ele parecia ter a cabeça aberta, então decidi tentar. Tudo começou com os primeiros pacientes que tratei, e um em especial. Tony era um residente de cirurgia no hospital onde eu era residente de psiquiatria. Ao contrário de muitos dos outros cirurgiões, ele não era arrogante. Na verdade, na primeira vez em que o vi, encolhido perto da porta do meu consultório, ele parecia um rato acuado. Quando lhe perguntei qual era o problema, ele respondeu: “Estou com medo de uma prova que tenho de fazer.” Ele estava tremendo como se a prova fosse dali a dez minutos; mas na verdade faltavam ainda seis meses. Qualquer prova o amedrontava – e essa era uma das grandes. Era seu exame de qualificação para o registro como cirurgião no Conselho de Medicina. Interpretei sua história como fora treinado para fazê-lo. Seu pai fizera fortuna com lavanderias a seco, mas nunca terminara a faculdade e tinha um profundo complexo de inferioridade. Aparentemente, queria que o filho se tornasse um famoso cirurgião para experimentar, por intermédio dele, um sucesso indireto. Porém, no fundo, era tão inseguro que se sentia ameaçado pela ideia de ser superado pelo filho. Tony estava inconscientemente apavorado com a possibilidade de se sair bem por essa razão: seu pai o veria como rival e retaliaria. Ser reprovado em seus exames era sua maneira de manter-se seguro. Pelo menos era nisso que eu tinha sido treinado para acreditar. Quando dei essa explicação a Tony, ele permaneceu cético. “Isso tá parecendo discurso de livro-texto. Meu pai nunca me pressionou a fazer nada por ele. Não posso culpá-lo pelo meu problema.” Ainda assim, pareceu ajudar a princípio; Tony parecia e sentia-se melhor. Porém, conforme o dia da prova foi se aproximando, todos os sintomas começaram a voltar. Ele queria adiar o exame. Assegurei-o de que aquilo era apenas seu medo inconsciente do pai. Tudo o que precisava fazer era continuar falando a respeito e o medo desapareceria novamente. Essa era a abordagem tradicional, testada e aprovada para o problema dele. Eu estava tão confiante que garanti que ele passaria na prova. Eu estava errado. Ele foi vergonhosamente reprovado. Tivemos uma última sessão depois disso. Ele ainda parecia um rato acuado, mas dessa vez um rato acuado com raiva. “Você não me deu uma maneira efetiva de superar o medo. Falar sobre o meu pai o tempo todo foi como lutar contra um gorila com uma pistola d’água. Você me decepcionou.” A experiência com Tony me abriu os olhos. Percebi quão impotentes os pacientes podem se sentir ao enfrentarem sozinhos um problema. O que eles precisavam era de soluções que lhes dessem o poder de reagir. Teorias e explicações não dão esse tipo de poder; eles precisam de forças que conseguem sentir. Tive uma série de outros fracassos menos espetaculares. Em todos os casos, um paciente encontrava-se num determinado estado de sofrimento: depressão, pânico, raiva obsessiva etc. Imploravam-me por uma maneira de fazer com que a dor desaparecesse. Eu não tinha ideia de como ajudá-los. Eu tinha experiência em lidar com fracassos. Era viciado em basquete quando criança e jogava com meninos melhores e maiores que eu (na verdade, praticamente qualquer um seria maior). Fracassei muito, mas sabia o que fazer; se me saísse mal, simplesmente praticava mais. Mas agora era diferente. Depois que perdi a confiança na maneira como tinha sido ensinado a fazer terapia, não havia nada a praticar. Era como se tivessem levado embora a bola. Fora treinado em psicoterapia por um grupo brilhante e dedicado de pessoas. De repente, sentia-me como se não tivesse a menor ideia de como fazê-lo. Isso não é incomum. Jovens terapeutas com frequência sentem-se inseguros. Com o passar do tempo, aprendem que a terapia só vai até certo ponto. Aceitando essas limitações, eles não se sentem tão mal consigo. Mas aquelas limitações eram, para mim, inaceitáveis. Eu não ficaria satisfeito até que pudesse oferecer aos pacientes aquilo que pediam: uma maneira de reagir. Decidi que encontraria uma maneira de fazer isso a todo custo. Em retrospecto, esse foi o passo seguinte num caminho que eu começara a trilhar desde a infância. Quando eu tinha 9 anos, meu irmão, que tinha 3, morreu de um tipo raro de câncer. Meus pais, que possuíam recursos emocionais limitados, nunca se recuperaram. Uma nuvem de desgraça pairava sobre eles. Isso mudou meu papel na família. Sua esperança para o futuro passou a se concentrar em mim – como se eu tivesse um poder especial de fazer com que a desgraça desaparecesse. Toda noite, meu pai voltava do trabalho, sentava em sua cadeira de balanço e ficava se atormentando. E não o fazia em silêncio. Eu sentava no chão ao lado de sua cadeira e ele me alertava de que seu negócio poderia falir a qualquer momento (ele dizia “quebrar”). Perguntava-me coisas como: “Você poderia se virar só com um par de calças?” ou “E se nós tivéssemos que morar todos num quarto só?” Nenhum de seus medos era realista; era o mais próximo que ele chegava de admitir seu pavor de que a morte nos visitasse novamente. No decorrer dos anos seguintes, percebi que meu trabalho era tranquilizá-lo. Na verdade, tornei-me psicólogo do meu pai. Eu tinha 12 anos. Eu não pensava na situação dessa forma. Simplesmente não pensava. Era movido por um medo instintivo de que, se não aceitasse esse papel, a desgraça nos dominaria. Por mais irreal que fosse, esse medo parecia absolutamente real na época. Estar sob esse tipo de pressão quando criança me fortaleceu depois de adulto, quando passei a ter pacientes de verdade. Ao contrário de meus colegas de profissão, não me sentia intimidado por suas exigências. Eu desempenhara aquele papel por quase vinte anos. Mas só porque eu estava disposto a lidar com a dor deles, não significava que soubesse como fazê-lo. De uma coisa tinha certeza: eu estava sozinho. Não havia livros que pudesse ler, especialistas com os quais pudesse me corresponder nem programas de treinamento nos quais pudesse me inscrever. Tudo o que eu tinha eram meus instintos. Ainda não sabia, mas eles estavam prestes a me levar a uma fonte totalmente nova de informações. Meus instintos me levaram ao presente. Era aí que estava o sofrimento de meus pacientes. Levá-los de volta ao passado era apenas uma distração; eu não queria outros Tonys. O passado contém memórias, emoções e insights, e todos têm seu valor. Eu buscava, contudo, algo poderoso o suficiente para lhes trazer alívio imediato. Para encontrá-lo, tinha de permanecer no presente. Eu só tinha uma regra: toda vez que um paciente me pedia alívio – de mágoas, inibições, desmoralizações ou qualquer outra coisa –, eu precisaria lidar com isso no ato. Tinha de achar uma solução na mesma hora. Trabalhando sem rede de segurança, adquiri o hábito de dizer em voz alta tudo o que me ocorria que pudesse ajudar o paciente. Era uma espécie de livre associação freudiana às avessas – feita pelo médico em vez de pelo paciente. Não sei se Freud teria aprovado. Cheguei ao ponto em que podia falar sem saber o que diria em seguida. Comecei a me sentir como se uma outra força estivesse falando através de mim. Pouco a pouco, as ferramentas neste livro (e a filosofia por trás do Método) se revelaram. O único requisito que precisavam cumprir era o de funcionarem. Como nunca considerei minha pesquisa completa até ter uma ferramenta específica para oferecer a um paciente, é crucial entender exatamente o que quero dizer quando utilizo o termo “ferramenta”. Uma ferramenta é muito mais que um “ajuste de atitude”. Se mudar sua vida fosse apenas uma questão de ajustar sua atitude, você não precisaria deste livro. Uma mudança verdadeira exige que você mude seu comportamento, não apenas sua atitude. Digamos que você grita quando está frustrado – solta os cachorros para cima de seu marido ou sua esposa, seus filhos ou funcionários. Alguém ajuda você a perceber como isso é inadequado e quanto está prejudicando seus relacionamentos. Você passa a ter uma nova atitude com relação a gritar. Sente-se iluminado, orgulhoso de si... até que um funcionário cometa um erro com consequências desastrosas. Então você começa a gritar sem sequer pensar. Uma mudança de atitude não o impedirá de gritar porque atitudes não controlam comportamentos; não são fortes o suficiente. Para controlar um comportamento, é preciso um Método específico a ser usado num momento específico para combater um problema específico. É isso que chamo de ferramenta. Você terá de esperar (sem gritar, se conseguir) até o Capítulo 3 para aprender a utilizar a ferramenta que se aplica a esse caso. A questão é que uma ferramenta – ao contrário de um ajuste – exige que você faça algo. Não apenas requer trabalho, é também um trabalho que você tem de fazer repetidamente – neste caso, toda vez que estiver frustrado. Uma nova atitude não significa nada a menos que seja acompanhada por uma mudança de comportamento. A maneira mais segura de mudar um comportamento é com o Método. Além do que já foi dito até agora, há uma diferença mais fundamental entre uma ferramenta e uma atitude. Uma atitude consiste em pensamentos que ocorrem dentro de sua cabeça – mesmo que você a mude, continua trabalhando dentro das suas limitações. O valor mais profundo de uma ferramenta é que ela leva você além do que acontece dentro de sua cabeça. Ela o conecta a um mundo infinitamente maior do que você, um mundo de forças ilimitadas. Não importa se você o chama de inconsciente coletivo ou mundo espiritual. Achei mais simples usar o termo “mundo superior”, e as forças nele contidas chamarei de “forças superiores”. Foi por precisar que o Método tivesse tamanho poder que me custou tanto esforço desenvolver as ferramentas. As informações emergiam inicialmente numa forma crua, inacabada. Eu tinha de retrabalhar uma ferramenta centenas de vezes. Meus pacientes nunca reclamavam; na verdade, gostavam de ser parte da criação de algo. Estavam sempre dispostos a fazer o test drive de uma nova versão de uma ferramenta e me dar um retorno a respeito do que funcionara ou não funcionara. Tudo o que pediam era que o Método os ajudasse. O processo me deixou vulnerável a eles. Eu não podia me manter a distância, como uma figura de autoridade onisciente, fornecendo informações do alto de um pedestal. Aquilo era mais um esforço conjunto – o que, na verdade, era um alívio. Nunca me senti à vontade com o modelo de terapia tradicional em que o paciente estava “doente” e o psiquiatra, mantendo-o a distância como um peixe morto, o “curaria”. Isso sempre me ofendeu – não me considerava melhor do que meus pacientes. O que eu gostava como terapeuta não era de manter o paciente a distância; era de colocar o poder nas mãos de meus pacientes. Ensiná-los as ferramentas foi minha maneira de lhes dar o maior dos presentes – a capacidade de mudar suas vidas. Por isso sentia uma enorme satisfação cada vez que desenvolvia uma ferramenta até estar pronta. Nesse processo de desenvolvimento do Método era surpreendentemente claro quando uma ferramenta estava completa. Nunca me sentia como se a tivesse inventado do nada; tinha a nítida impressão de que estava desvendando algo que já existia. Minha contribuição de fato era a confiança de que, para cada problema que pudesse identificar, haveria uma ferramenta a ser descoberta que traria alívio. Eu era como um cachorro que não largava o osso até que a ferramenta aparecesse. Essa confiança estava prestes a ser recompensada de uma maneira que eu nunca poderia ter imaginado. Com o passar do tempo, fui observando o que acontecia com os pacientes que usavam o Método regularmente. Como eu havia esperado, eles agora conseguiam controlar seus sintomas: pânico, negatividade, fuga etc. Porém algo mais – algo inesperado – estava acontecendo. Eles começaram a desenvolver novas habilidades. Eram capazes de se expressar com mais confiança; experimentavam um nível de criatividade que nunca haviam sentido antes; começavam a se destacar como líderes. Estavam tendo um impacto no mundo à sua volta – na maioria dos casos, pela primeira vez em suas vidas. Nunca me propusera a fazer isso. Havia definido meu trabalho como restituir o paciente ao “normal”. Contudo, esses pacientes estavam indo muito além do normal – desenvolvendo potenciais que nem sequer sabiam ter. As mesmas ferramentas que aliviavam a dor no presente, quando usadas continuamente, com o tempo estavam afetando todas as partes de suas vidas. As ferramentas estavam se provando ainda mais poderosas do que eu havia esperado. Para entender isso, tive de expandir meu foco além das próprias ferramentas e observar mais atentamente as forças superiores que elas estavam liberando. Eu já vira essas forças em ação antes. E você também – todo ser humano já as experimentou. Elas possuem um poder oculto, inesperado, que nos permite fazer coisas que normalmente consideramos impossíveis. Porém, para a maioria das pessoas, o único momento em que se tem acesso a elas é numa emergência. Então, conseguimos agir com coragem e engenhosidade elevadas – mas assim que a emergência passa, os poderes se vão e esquecemos que sequer os possuímos. As experiências de meus pacientes me abriram os olhos para uma visão completamente nova do potencial humano. Meus pacientes estavam operando como se tivessem acesso a essas forças todos os dias. Ao utilizar o Método, as forças podiam ser geradas de acordo com a vontade de cada um. Isso revolucionou minha visão de como a psicoterapia deveria funcionar. Em vez de enxergar os problemas como uma expressão de um “distúrbio” cuja causa estava no passado, precisávamos enxergá-los como catalisadores para o desenvolvimento de forças no presente, forças essas já latentes dentro de nós. Mas o terapeuta tinha de fazer mais do que apenas enxergar os problemas como catalisadores. Sua função era dar ao paciente acesso concreto às forças necessárias para resolver o problema. Essas forças tinham de ser sentidas, não apenas discutidas. Isso exigia algo que a terapia nunca fornecera: um conjunto de ferramentas, um Método. Eu acabara de passar uma hora despejando uma quantidade enorme de informações. Barry apreendera tudo sem dificuldade, balançando a cabeça vigorosamente em sinal de concordância em determinados pontos. Só havia um porém. Percebi que toda vez que eu mencionava “forças” ele parecia vacilar. Eu sabia que ele não era bom em esconder o que estava pensando – preparei-me para a pergunta inevitável. A maior parte do que Phil dissera fora reveladora. Absorvi tudo como uma esponja e estava pronto para usá-lo em meus pacientes. Porém havia um ponto que eu não conseguia engolir: a parte sobre as tais forças superiores que ele vivia mencionando. Estava me pedindo que acreditasse em algo que não poderia ser medido ou sequer visto. Eu estava certo de que conseguira esconder essas dúvidas dele. Então ele interrompeu meus pensamentos. “Tem algo te incomodando.” “Não, nada... isso foi incrível.” Ele simplesmente ficou me encarando. A última vez em que me sentira assim fora quando me pegaram colocando açúcar em meu cereal quando criança. “Está bem. Só uma coisinha... Tá legal, não é só uma coisinha. Você está absolutamente seguro sobre essas forças superiores?” Ele certamente parecia estar seguro. Então me perguntou: “Você já fez uma grande mudança na sua vida – uma espécie de salto quântico que te levou muito além do que você pensava que poderia ir?” Na verdade, sim, já fizera. Embora eu tivesse tentado esquecer isso, começara minha vida profissional como advogado. Aos 22 anos, fui aceito por uma das melhores faculdades de direito do país. Aos 25 anos, me formei entre os primeiros da turma e fui contratado por um renomado escritório de advocacia. Tendo conquistado o sistema, havia chegado ao topo da montanha – e, de cara, odiei-o. Era asfixiante, conservador e chato. Eu lutava constantemente contra o desejo de desistir daquilo tudo. Porém me esforçara muito toda a minha vida; desistência não fazia parte de meu repertório. Como eu explicaria a decisão de largar uma profissão prestigiosa, bem-remunerada – especialmente para meus pais, que por toda a minha vida me incentivaram a ser advogado? Mas, não sei como, acabei largando. Lembro-me bem daquele dia. Eu tinha 28 anos, estava no lobby do prédio onde trabalhava, fitando os rostos silenciosos e vítreos que passavam na calçada lá fora. Por um momento, para meu horror, vi meu próprio rosto refletido na janela. Meus olhos pareciam mortos. De repente, senti que corria o risco de perder tudo e me tornar um daqueles zumbis de terno cinza. Então, com a mesma repentinidade, senti algo que nunca sentira antes: uma força de absoluta convicção, absoluta confiança. Sem nenhum esforço de minha parte, senti-a levando-me ao escritório de meu chefe. Pedi demissão no ato. Relembrando esse dia com a pergunta de Phil em mente, percebi que eu tinha de fato sido impelido por uma força que viera de algum outro lugar. Quando descrevi a Phil minha experiência, ele ficou empolgado. Apontou para mim e disse: “É disso que eu estou falando. Você sentiu uma força superior em ação. As pessoas têm essas experiências o tempo todo, mas não entendem o que estão sentindo.” Ele fez uma pausa, então perguntou: “Você não planejou para que isso acontecesse, certo?” Fiz que não com a cabeça. “Você consegue imaginar como seria sua vida se você pudesse acessar essa força quando bem entendesse? É isso que as ferramentas lhe proporcionam.” Eu ainda não conseguia aceitar plenamente a ideia de forças superiores, mas não importava. Qualquer que fosse o nome dado à força que mudou minha vida, eu sabia que era real. Eu a sentira. Se as ferramentas me dessem acesso a ela todos os dias, não me importava o nome que lhe dessem. E quando apresentei as ferramentas aos meus pacientes, eles também não se importaram. Exultante com a possibilidade de que eu pudesse realmente mudar suas vidas, eu irradiava um entusiasmo que não se pode fingir. Isso atraiu a atenção deles de uma maneira que nada jamais fizera. A resposta foi uniformemente positiva. Muitos comentaram sobre como as sessões pareciam muito mais produtivas. “Em geral, eu saía daqui completamente perdido, sem saber se havia tirado algum proveito da sessão. Agora, saio daqui com a sensação de que tem algo que eu posso fazer – algo prático que vai me ajudar.” Pela primeira vez em minha curta carreira, me sentia capaz de oferecer esperança a meus pacientes. Foi transformador. Comecei a ouvir um refrão familiar: “Você me deu mais em uma sessão do que eu tinha conseguido com anos de terapia.” Meu consultório começou a ficar cheio. Sentia-me mais realizado do que nunca. E, dito e feito, percebi as mesmas mudanças em meus pacientes que Phil tinha visto quando estava descobrindo as ferramentas. Suas vidas estavam se expandindo de maneiras inesperadas. Eles estavam se tornando melhores líderes, melhores pais; estavam mais ousados em todas as áreas de suas vidas. Vinte e cinco anos se passaram desde que Phil e eu nos conhecemos. As ferramentas proporcionaram exatamente o que ele disse que proporcionariam: uma conexão diária com forças superiores capazes de mudar nossas vidas. Quanto mais eu usava as ferramentas, mais claramente sentia que essas forças chegava através de mim, não de mim – eram um presente de algum outro lugar. Carregavam um poder extraordinário que me possibilitava fazer coisas que eu nunca fizera antes. Com o passar do tempo, pude aceitar que esses novos poderes me foram dados por forças superiores. Não apenas vivencio essas forças há duas décadas e meia, como também tenho o privilégio de treinar pacientes para acessá-las de maneira tão constante quanto eu. A finalidade deste livro é dar a você o mesmo acesso. Essas forças revolucionarão a maneira como você enxerga sua vida e seus problemas. Você não se sentirá mais amedrontado ou dominado pelos problemas. Em vez de perguntar “Há algo que eu possa fazer a respeito desse problema?”, você aprenderá a fazer uma pergunta muito diferente: “Que ferramenta me permite resolvê-lo?” Juntos, Phil e eu temos sessenta anos de experiência em psicoterapia. Com base nessa experiência, identificamos quatro problemas fundamentais que impedem as pessoas de viverem as vidas que desejam. A felicidade e a satisfação que você obtém na vida dependem de quão bem você consegue se livrar desses problemas. Cada um dos quatro primeiros capítulos lida com um desses problemas. Cada capítulo fornece também a ferramenta que funciona da maneira mais eficaz para aquele problema. Explicaremos como a ferramenta conecta você a uma força superior – e como essa força resolve seu problema. Você pode não ver seus problemas exatamente refletidos nas lutas dos pacientes que discutimos. Felizmente, isso não significa que você não possa tirar proveito das ferramentas. Você perceberá que elas o ajudarão em diversas situações. Para deixar isso bem claro, no final de cada capítulo descreveremos o que chamamos de “Outros Usos” para cada ferramenta. Você provavelmente encontrará pelo menos um que se aplique à sua vida. O que descobrimos é que as quatro forças superiores que as ferramentas evocam são necessidades básicas para uma vida plena. A forma em que seus problemas aparecem não importa muito, o que importa é que você utilize o Método. Acreditamos em todo o conteúdo deste livro, pois ele foi desenvolvido e testado por meio de experiências reais. Mas não se fie em nossa palavra; leia-o ceticamente. Conforme for lendo, pode ser que venha a questionar algumas das ideias. Já ouvimos a maioria desses questionamentos antes, e por volta do fim de cada capítulo responderemos aos mais comuns. Contudo, as verdadeiras respostas estão nas ferramentas; utilizá-las lhe permitirá vivenciar o efeito de forças superiores. Descobrimos que, depois que alguém o vivencia repetidamente, suas objeções desaparecem. Já que o ponto principal é fazer com que você utilize o Método, no final de cada capítulo você encontrará um pequeno resumo do problema, da ferramenta e de como usá-la. Se estiver realmente empenhado em usar as ferramentas, você voltará a esses resumos diversas vezes para se manter no caminho certo. Ao terminar os quatro primeiros capítulos, você terá aprendido as quatro ferramentas que lhe permitirão viver uma vida gratificante. Você pode achar que isso é tudo de que precisa. Não é. Você pode ficar surpreso, mas a maioria das pessoas para de usar as ferramentas, apesar de elas funcionarem. Essa é uma das verdades mais enlouquecedoras da natureza humana: deixamos de fazer as coisas que mais nos ajudam. Estamos realmente empenhados em ajudar você a mudar sua vida. Se você se sentir da mesma forma, terá de superar essa resistência. É aqui que o bicho pega. Para ser bem- sucedido, você precisará entender o que o impede de usar o Método – e precisará reagir. O Capítulo 6 ensina como fazê-lo. Ele oferece uma quinta ferramenta; de certa maneira, a mais crucial de todas. Essa é a ferramenta que garante que você continue usando as outras quatro. Você precisará de mais uma coisa para ter certeza absoluta de que não deixará de usar o Método para se conectar com as forças superiores. Fé. Forças superiores são tão misteriosas que é quase impossível não duvidar de sua existência de vez em quando. Alguns até se refeririam a isso como a questão existencial da era moderna – como ter fé em algo completamente intangível. No meu caso, a dúvida e a descrença vieram de berço, já que tanto meu pai quanto minha mãe eram ateus. Eles teriam rido da palavra “fé”; imagina então algo como “forças superiores”, que não pode ser explicado de maneira racional ou científica. No Capítulo 7 descreverei a minha luta para depositar minha confiança nessas forças e ajudarei você a fazer o mesmo. Pode acreditar, se eu aprendi a ter fé, qualquer um é capaz de aprender. Presumi que aceitar as forças superiores como algo real seria o último ato de fé esperado de mim. Eu estava enganado. Phil tinha mais uma ideia louca na manga. Segundo ele, cada vez que alguém usava uma ferramenta, as forças superiores evocadas poderiam beneficiar não apenas esse alguém, mas todos a seu redor. Com o passar dos anos, isso foi parecendo cada vez menos absurdo. Passei a acreditar que as forças superiores eram mais que simplesmente benéficas à sociedade – não poderíamos sobreviver sem elas. Porém você não precisa se fiar na minha palavra. O Capítulo 8 lhe dá uma maneira de vivenciar isso por si próprio. A saúde de nossa sociedade depende dos esforços de cada indivíduo. Toda vez que um de nós obtém acesso a forças superiores, todos nós nos beneficiamos. Isso coloca uma responsabilidade especial naqueles que sabem como utilizar as ferramentas. Eles se tornam os primeiros a trazer as forças superiores para o resto da sociedade. São pioneiros, construindo uma comunidade nova, revigorada. Acordo todas as manhãs e agradeço pela existência das forças superiores. Elas nunca param de se revelar de novas maneiras. Por meio deste livro, compartilhamos com você a magia dessas forças. Estamos empolgados com a jornada em que você está prestes a embarcar. CAPÍTULO 2 A Ferramenta: A Inversão do Desejo A FORÇA SUPERIOR: A FORÇA PROPULSORA Vinny era um paciente meu com um dom questionável: conseguia fazer com que qualquer um se voltasse contra ele minutos depois de conhecê-lo. Em nossa primeira sessão, cumprimentei-o na sala de espera e ele ladrou sarcasticamente: “Pô, bela decoração – você comprou essa porcaria num mercado das pulgas? A lojinha da esquina já seria um grande avanço para você.” Quando não estava usando sua sagacidade para alienar as pessoas, era de fato um comediante talentoso. Mas seu currículo não refletia seu talento. Quando o conheci, ele tinha 33 anos, trabalhava com stand-up comedy havia dez anos e nunca tinha conseguido sair do circuito de pequenos clubes de comédia. Não tinha sido por falta de oportunidade. Seu empresário havia se dedicado a conseguir bons trabalhos para Vinny – clubes maiores, talk shows e seriados de TV. Apesar da concorrência acirrada por essas oportunidades, Vinny tinha uma boa chance de se dar bem. Era engraçado. O problema é que ficava sabotando os esforços de seu empresário. No mais recente incidente, seu empresário havia marcado uma entrevista com um proprietário de um famoso clube de comédia, do tipo que pode deslanchar carreiras ou acabar com elas, e Vinny não tinha aparecido; nem sequer havia ligado para explicar ou remarcar. Essa tinha sido a última gota para seu empresário, que ameaçou despedir Vinny a menos que ele fosse se consultar comigo. “Pensei: por que não fingir que estou tentando?”, disse Vinny em tom conspiratório, dando uma piscada. Perguntei a Vinny por que ele não tinha ido à entrevista. Sua desculpa – a primeira de muitas – era ridícula. “Não funciono bem de manhã”, reclamou ressentido, “e meu empresário sabe disso”. “Você não poderia ter aberto uma exceção dessa vez, já que seria tão importante para a sua carreira?” Vinny balançou sua cabeça robusta de um lado para outro com determinação. “Não, não vou entrar naquele esquema frenético de fazer tudo pela carreira. É muito estresse.” Se levantar de manhã era pedir demais, não era de se admirar que a carreira de Vinny houvesse empacado. A reunião perdida era apenas o caso mais recente de autossabotagem. Num outro fiasco, seu empresário havia agendado um show num grande anfiteatro para um evento beneficente. A apresentação havia começado bem, mas Vinny acabou sendo vaiado e teve de deixar o palco depois de começar a contar piadas ofensivas. Ele parecia ter prazer em afastar as pessoas. Quando seu empresário conseguiu que ele fosse convidado para uma festa descolada em Hollywood, onde poderia ter cortejado as pessoas que tomavam as decisões de contratação para seriados de TV, Vinny apareceu bêbado, desgrenhado e cheirando a vômito. “Você já se perguntou por que está deliberadamente destruindo sua carreira?”, perguntei. “Eu não estou destruindo nada. Só não vou me vender. Você puxa o saco de alguém numa festa, parece inofensivo. Talvez essa pessoa lhe faça um favor e, quando você vai ver, suas melhores piadas estão sendo censuradas. Você acaba contando piadas do tipo ‘um pinguim entra num bar’ só para ser mais simpático para o público.” Se “ser simpático” significava aparecer para reuniões na hora marcada, era exatamente isso que ele precisava se tornar, mas Vinny não pensava assim. “Meu trabalho é ser engraçado, não simpático. Se você quiser alguém ‘simpático’, contrate um cara que acha que pão com manteiga é uma excelente refeição. Eu até me ofereço para dar o papel para ele embrulhar o pão e levar para o trabalho.” Vinny estava dando uma aula sobre como destruir uma carreira. E o que era pior: havia se convencido de que estava agindo com base num senso de virtude. Resolvi pagar para ver. “Parece que você está bem resolvido. Acho que você deveria dizer ao seu empresário que vai ficar bem sem ele; que está feliz com o nível em que está. Você pode marcar suas próprias apresentações nos clubes.” Joguei meu caderno de anotações e minha caneta na mesa e levantei da cadeira. “Se terminarmos esta sessão agora, não vou nem cobrar por ela.” Os olhos de Vinny se arregalaram. “Mas... eu...”, gaguejou, “eu pensei que a gente poderia...”. Ele fechou os olhos e se recompôs. “Não é que eu não queira progredir na minha carreira.” “Então que tal ser honesto sobre a razão pela qual você insiste em destruí-la?” Levou um tempo, mas ele finalmente admitiu que odiava situações em que seu sucesso dependia de outras pessoas: entrevistas, testes, até mesmo um telefonema para alguém que poderia ajudar sua carreira. Essas situações o deixavam vulnerável e ele fugia delas como da peste. Perguntei-lhe o que havia de tão ruim em precisar dos outros. “Eu odeio”, resmungou. Depois de alguma investigação, ele revelou por quê. “Eu saí do útero vestindo uma roupa de palhaço, fazendo estardalhaço para chamar atenção. Quando era criança, estava sempre testando novas piadas com os clientes do meu pai. Ele ficava maluco.” “Por quê?” “Ele administrava seu negócio em casa.” “Que tipo de negócio?” “Ele era agente funerário.” Ri. “Ah, vá lá, Vinny. Fala sério.” “Eu estou falando sério. Todo dia eu entrava escondido na sala de espera e fazia minha apresentação e toda noite tomava uma surra de cinto. Se eu começasse a chorar, ele me chamava de ‘frutinha’ e me batia mais forte.” Seus olhos começaram a encher de lágrimas. “Era um verdadeiro pesadelo.” Ficou claro por que ele fazia de tudo para evitar estar numa situação vulnerável. Nunca mais queria dar a alguém a chance de lhe infligir dor. Porém, tinha pagado um preço alto por essa proteção – havia sacrificado sua carreira. Você pode não ter feito o mesmo tipo de sacrifício que Vinny fez, mas nunca encontrei ninguém que não tivesse aberto mão de algo para evitar a dor. A ZONA DE CONFORTO Evitar a dor não seria um problema se fizéssemos isso uma ou duas vezes por ano. Porém, para a maioria de nós, é um hábito profundamente arraigado. Ficamos atrás de um muro invisível, entrincheirados, e não nos aventuramos a sair de trás dele porque além do muro está a dor. Esse espaço seguro é a Zona de Conforto. No caso mais extremo, a pessoa se esconde atrás das paredes reais de sua casa, com medo de se aventurar no mundo lá fora. Isso é o que significa ser agorafóbico. Contudo, para a maioria de nós, a Zona de Conforto não é um lugar físico; é um estilo de vida que evita qualquer coisa que possa ser dolorosa. A Zona de Conforto de Vinny consistia em situações nas quais ele se sentia seguro: clubes pequenos onde tinha uma apresentação fixa, um pequeno círculo de amigos de escola que riam de todas as suas piadas, uma namorada que nunca o deixaria, independentemente do que ele exigisse dela. Ele evitava qualquer coisa que fizesse com que se sentisse exposto: um teste para um trabalho mais importante, relacionar-se com pessoas que poderiam ajudar sua carreira, namorar uma mulher que tivesse vida própria. A sua Zona de Conforto pode não ser tão óbvia quanto a de Vinny, mas você tem uma – todos nós temos. Vamos ver como é a sua. Experimente fazer o seguinte exercício (todos os exercícios funcionam melhor se forem feitos com os olhos fechados): Escolha algo que você odeia fazer. Pode ser viajar, conhecer pessoas, reuniões de família etc. Como você organiza sua vida para evitar fazer essa atividade? Imagine esse padrão de comportamento com um lugar onde você se esconde. Essa é sua Zona de Conforto. Como você se sente nela? Você provavelmente sentiu que estava num lugar seguro e familiar, livre da dor que o mundo traz consigo. Isso recria quase completamente sua Zona de Conforto, mas deixa de fora o ingrediente final. Por mais estranho que pareça, meramente escapar da dor não é suficiente para nós. Insistimos em substituir a dor pelo prazer. Fazemos isso com um conjunto interminável de atividades viciantes: navegar na internet, drogas e álcool, pornografia, comidas gostosas. Até apostas e compras compulsivas são tipos de prazer. Todos esses comportamentos são generalizados – todos nós fazemos parte de uma cultura em busca de sua Zona de Conforto. Inserimos essas atividades em nossas rotinas diárias. Vinny, por exemplo, passava todas as noites com os mesmos amigos, fumando um baseado, comendo pizza e jogando videogames. Ele descrevia essas experiências como se tivesse entrado num universo alternativo. “Uma tragada e o resto do mundo desaparece.” A sensação proporcionada por esse mundo alternativo é como um banho morno, agradável e reconfortante, como se, por um momento, você estivesse de volta ao útero materno. Essas atividades “banho morno” só fazem nos debilitar ainda mais. Quanto mais você se esconde no banho morno, menos disposto se torna a lidar com a ducha fria da realidade. Pergunte a si mesmo quais são suas atividades “banho morno”. Quanto mais frequentemente você cede a um determinado impulso, maior a probabilidade de que o esteja usando para criar uma Zona de Conforto. Agora experimente o seguinte exercício: Sinta-se sucumbindo a um ou mais desses comportamentos. Imagine que a sensação de prazer o transporte a outro mundo. De que forma esse mundo afeta seu senso de propósito? Não importa do que consiste sua Zona de Conforto; você paga um preço alto por ela. A vida oferece infinitas possibilidades, mas junto com elas vem a dor. Se você for incapaz de tolerar a dor, será incapaz de viver plenamente. Há muitas versões diferentes disso. Se você é tímido e evita as pessoas, perde a vitalidade que acompanha um senso de comunidade. Se você é criativo, mas não tolera críticas, evita vender suas ideias para o mercado. Se você é um líder, mas não consegue confrontar as pessoas, ninguém o seguirá. A suposta finalidade da Zona de Conforto é manter sua vida segura, mas o que realmente faz é manter sua vida limitada. Vinny era um bom exemplo. Todas as áreas da vida dele – sua carreira, suas amizades, até mesmo sua vida amorosa – eram uma versão em miniatura do que poderiam ter sido. Veja a seguir uma maneira de ilustrar a Zona de Conforto e o preço que você paga por viver nela: A maioria de nós é como o bonequinho da figura, preso na Zona de Conforto. Para tirar vantagem das infinitas possibilidades que a vida nos oferece, temos de nos aventurar a sair. A primeira coisa que encontramos é a dor. Sem uma maneira de superá-la, corremos de volta para o lugar onde nos sentimos seguros. Isso está representado pela seta que sai, se aproxima da dor e volta. Com o tempo, desistimos de sequer tentar escapar da Zona de Conforto; nossos sonhos e aspirações mais queridos são perdidos. O médico, professor e autor Oliver Wendell Holmes, que viveu no século XIX, escreveu no poema The Voiceless (Os sem-voz): “Ai daqueles que nunca cantam,/ Mas falecem com toda a sua música dentro de si.” É uma tragédia morrer sem ter cantado sua canção. O pior é que os culpados somos nós mesmos – nós nos silenciamos. Ainda assim, apesar do terrível preço que pagamos, não deixamos a Zona de Conforto. Por que não? Porque somos mantidos lá pela fraqueza moderna por excelência: a necessidade de gratificação imediata. A Zona de Conforto nos faz sentir bem no momento. Quem se importa com qual será o castigo futuro? Porém o castigo vem, trazendo consigo a pior das dores: saber que você desperdiçou sua vida. Somos uma sociedade treinada para esperar, até mesmo exigir, gratificação imediata. E temos uma capacidade extraordinária de racionalizar essa fraqueza. Em vez de admitir que estamos evitando a dor, dizemos a nós mesmos que estamos sendo nobres; Vinny havia se convencido de que estava se recusando a “se vender”. Acabamos com uma visão de mundo distorcida, que faz com que a fuga pareça a coisa certa a se fazer, até mesmo corajosa e idealista. Este é o pior de todos os pecados: mentir para nós mesmos. Ele faz com que a mudança se torne impossível. Expliquei tudo isso a Vinny. Só o fato de entender por que estava tão empacado fez com que ele se sentisse um pouco melhor. Ele me agradeceu e se levantou, apressado para sair. “Espera aí”, eu disse. Vinny parecia surpreso. “Estou feliz que você esteja se sentindo melhor”, falei, “mas se ficarmos por aqui, nada terá mudado; você ainda estará preso na Zona de Conforto. Você quer aceitar esse castigo?”. “Se você me deixar sair agora, sim”, Vinny respondeu, meio brincando, porém sentou-se novamente. Pela primeira vez, vi em seus olhos a esperança de que sua vida pudesse ser melhor do que era. A FORÇA SUPERIOR: FORÇA PROPULSORA Alguns poucos indivíduos se recusam a viver vidas limitadas. Passam por enormes quantidades de dor – desde rejeições e fracassos até momentos mais breves de constrangimento e ansiedade. Também lidam com as pequenas e tediosas dores necessárias para a disciplina pessoal, forçando-se a fazer coisas que todos sabemos que deveríamos fazer, mas não fazemos, como se exercitar, ter uma dieta saudável e nos manter organizados. Por não evitarem nada, podem correr atrás de suas maiores aspirações. Parecem mais vivos que o resto de nós. Eles têm algo que lhes dá a força necessária para suportar a dor: um senso de propósito. O que fazem no presente, não importa quão doloroso seja, tem um significado em termos do que querem para o futuro. Quem foge da dor só se preocupa com a gratificação imediata; não assume responsabilidade por seu futuro. Um senso de propósito não se adquire com um simples pensamento. É necessário tomar medidas que nos impulsionem em direção ao futuro. No momento em que fazemos isso, ativamos uma força mais poderosa do que o desejo de evitar a dor. Isso é o que chamamos Força Propulsora. É a primeira das cinco forças superiores das quais falaremos neste livro. Elas são “superiores” porque existem no plano em que o universo ordena e cria, dando-lhes poderes misteriosos. Esses poderes são invisíveis, mas seus efeitos estão por toda a parte. Isso é especialmente evidente no caso da Força Propulsora. Seu poder é o poder da própria vida. Tudo o que está vivo está evoluindo para o futuro com um senso de propósito – seja um único organismo, uma espécie ou todo o planeta. O poeta Dylan Thomas dizia que era “ A força que, através do rastilho verde, impele a flor”. A existência contínua da vida no decorrer de milhões de anos é uma comprovação do poder invencível da Força Propulsora. Esse poder também tocou a sua vida. Você começou a vida como um bebê indefeso; contudo, num período de tempo consideravelmente curto, passou de engatinhar para ficar de pé e daí para andar. Você fez isso apesar de inúmeros contratempos dolorosos. Observe uma criança aprendendo a andar. Não importa quantas vezes ela caia, logo se levanta para continuar indo atrás de seu objetivo. Seu senso de propósito é impressionante; ela acessou a Força Propulsora. Essa força impulsiona as crianças a desenvolver as habilidades básicas de que precisam para crescer. Como a força tem essa função idêntica em cada uma delas, funciona como uma presença universal da qual elas não estão conscientes. Com adultos, é diferente. A tarefa central de um adulto é encontrar seu propósito no mundo. Esse propósito é diferente para cada pessoa; encontrá-lo é uma questão individual. A Força Propulsora só funciona num indivíduo se ele escolhe conscientemente usá-la – e aceita a dor que vem com ela. A maioria de nós opta pela fuga. Consequentemente, não alcançamos nosso pleno potencial e nunca nos tornamos a pessoa que deveríamos ser. Vinny era um ótimo exemplo. Quando criança, tinha o impulso de se desenvolver como artista; apesar das surras, se apresentava para os clientes de seu pai todos os dias. Porém, como adulto, ele decidiu que não queria mais ser vulnerável. Essa decisão o transformou numa versão amarga e limitada de quem ele deveria ser. Deixando-me levar pelo meu próprio entusiasmo, eu disse a Vinny: “Com a força propulsora, sua vida é como uma estrela radiante, em constante expansão. Quando você se esconde na Zona de Conforto, a vida se torna um buraco negro, consumindo-se em si mesmo.” Vinny não compartilhou do meu entusiasmo. “Você parece minha professora de catecismo – que, aliás, era uma solteirona que nunca transou. Você não faz ideia do que é colocar o seu na reta na frente de um bando de babacas.” Por mais duro que isso soasse, eu o entendi. Para Vinny, a Força Propulsora não passava de duas palavras. Ele precisava sentir a força dentro dele, impulsionando-o, antes de conseguir ter fé nela. Em minha opinião, essa experiência visceral era precisamente o que estava faltando na psicoterapia tradicional. A terapia era capaz de extrair ideias e emoções, mas não tinha nenhuma maneira direta de conectar os pacientes às forças que precisavam para mudar suas vidas. Quando conheci Phil, percebi instantaneamente que ele havia aprendido como fazer essa conexão. A resposta estava no poder das ferramentas que ele tinha descoberto. As ferramentas foram concebidas para tirar proveito da natureza incomum das forças superiores. Estamos acostumados com forças que podemos controlar: podemos pisar no acelerador, acender a luz, abrir a água quente e conseguir a resposta que queremos. Essas forças são separadas de nós; nós as controlamos de fora. Não importa o estado em que nos encontramos. Isso não funciona com as forças superiores; elas não estão sujeitas a controle externo. Para atrair uma força superior, você e ela precisam se tornar um só. Você consegue isso assumindo a mesma forma que a força assume – tornando-se uma miniversão dela. Não há pensamento suficiente que possa fazer isso por você; é preciso mudar seu estado de ser. Essa é a genialidade do Método. Cada ferramenta apresentada neste livro permite que você “imite” o funcionamento de uma força superior diferente, fazendo com que você e ela se tornem um e lhe dando acesso à energia dessa força. O livro explica a natureza das cinco forças superiores básicas. Depois, para cada força, ele lhe ensina a ferramenta que faz com que você se alinhe a ela. Com a prática, você conseguirá invocar essas forças quando bem entender. Elas lhe darão algo que não tem preço: a capacidade de criar seu próprio futuro. A FERRAMENTA: A INVERSÃO DO DESEJO Colocamos a Força Propulsora em primeiro lugar porque sua natureza é a mais óbvia, movendo-se sem parar pelo universo com um senso de propósito. Para acessar essa força, você precisa avançar incessantemente em sua própria vida – não há outra maneira de reproduzi-la. Mas isso não é tão fácil. A esta altura, você já sabe que evitamos a dor da força propulsora a todo custo. Phil não parecia se deixar intimidar por essa detestável fraqueza humana. Ele me disse – com completa confiança – que qualquer um poderia dominar seu medo da dor. Perguntei a ele como ele podia ter tanta certeza. Ele respondeu que havia descoberto uma ferramenta que nos treinava para desejar a dor. Isso me pareceu estranho, até mesmo em se tratando de Phil. Fiquei me perguntando se ele era uma espécie de masoquista – ou coisa pior. Então ele me contou a seguinte história e vi que havia uma lógica por trás da loucura. Eu estava no segundo ano do ensino médio aos 13 anos de idade – um nanico magrela num colégio só de meninos, todos muito maiores do que eu. A parte da semana que mais me apavorava era a aula de desenho mecânico. Meus desenhos eram enormes manchas, pareciam testes de Rorschach. Mais aterrorizante que a aula era o aluno que sentava ao meu lado. Enorme e peludo, ele tinha 18 anos e era o capitão e a estrela do time de futebol americano. Eu olhava para ele como se fosse um misto de um deus com um animal muito perigoso. Felizmente, tínhamos pelo menos uma coisa em comum: éramos os dois piores desenhistas da turma. Conforme nossa incompetência foi nos aproximando, ele começou a se abrir comigo. Ele falava do assunto que mais amava: futebol americano. Tinha sido votado o melhor running back, ou corredor, da área. Por alguma razão, ele estava ávido por me explicar como tinha alcançado essa distinção. O que ele disse me chocou – ainda consigo lembrar quarenta anos depois. Ele explicou que não era o corredor mais rápido da cidade nem o mais ágil. Havia jogadores mais fortes. Ainda assim, ele era o melhor da cidade, com ofertas de bolsas de estudo das melhores universidades comprovando seu valor. A razão pela qual ele era o melhor, explicou, não tinha nada a ver com suas capacidades físicas – era sua atitude com relação a ser atingido. Ele exigia a bola desde o começo de cada jogada e corria até o adversário mais próximo. Não tentava despistá-lo nem correr para onde não pudesse ser alcançado. Corria diretamente de encontro ao adversário de propósito, não importando o quanto doesse. “Quando me levanto, me sinto ótimo, vivo. É por isso que eu sou o melhor. Os outros corredores têm medo, dá para ver nos olhos deles.” Ele estava certo; nenhum deles compartilhava o desejo dele de ser esmagado por um jogador da defesa adversária. Minha primeira reação foi achar que ele era louco. Ele vivia num mundo de constante dor e perigo – e gostava disso. Era exatamente o mundo que eu havia passado toda a minha infância tentando evitar. No entanto, eu não conseguia tirar a ideia louca dele da minha cabeça; se você for diretamente de encontro à dor, desenvolve superpoderes. Quanto mais os anos passavam, mais eu descobria que isso era verdade – e não apenas nos esportes. Sem saber, ele havia me apresentado o segredo do domínio da dor e me fornecido a base para a ferramenta que poderia conectar qualquer um com a Força Propulsora. Aquele jogador de futebol americano se destacava de seus colegas porque havia “invertido” o desejo humano normal de evitar a dor – ele queria a dor. Isso para ele era natural, mas parece impossível para a maioria das pessoas. Não é. Com a ferramenta certa, qualquer um pode se treinar para desejar a dor. A ferramenta é chamada a Inversão do Desejo. Antes de tentá-la, escolha uma situação que você está evitando. Não precisa envolver dor física, como no caso do jogador de futebol americano. Mais provavelmente, você está evitando algum tipo de dor emocional; um telefonema que está adiando, um projeto que parece opressivo ou uma tarefa que é simplesmente entediante. Vinny estava evitando a rejeição que teria de enfrentar se tentasse ir mais longe no show business. Quando tiver escolhido uma situação, imagine a dor que você sentiria. Depois, esqueça a situação e concentre-se na dor em si. Então, experimente usar o Método. A Inversão do Desejo Veja a dor aparecer na sua frente como uma nuvem. Grite mentalmente para a nuvem: “PODE VIR!” Sinta um intenso desejo pela dor movendo você para dentro da nuvem. Grite mentalmente: “EU AMO A DOR!”, enquanto continua avançando. Entre fundo na dor, a ponto de você e ela se tornarem um só. Você sentirá a nuvem cuspi-lo para fora e se fechar atrás de você. Diga internamente, com convicção: “A DOR ME LIBERTA!” Ao deixar a nuvem, sinta-se impulsionado para um âmbito de pura luz. Os primeiros dois passos requerem a ativação de sua própria vontade, mas, no passo final, você deve se sentir carregado por uma força muito maior do que você: essa é a Força Propulsora. Ao chamar a dor para si, faça-o com a maior intensidade que puder. Como você se sentiria se tivesse o pior resultado possível? O público vaia seu discurso. Você é abandonado por seu cônjuge no meio da discussão. Se você consegue dominar o pior, qualquer coisa menor se torna fácil. Quanto mais intensa a dor – e quanto mais agressivamente você avançar para dentro dela –, mais energia criará. Aprenda a passar pelos três passos de maneira rápida, porém intensa. Não faça isso apenas uma vez. Continue repetindo os passos até sentir que converteu completamente toda a dor em energia. Você pode se lembrar de cada passo por meio da frase que o acompanha. 1. “Pode vir.” 2. “Eu amo a dor.” 3. “A dor me liberta.” O simples ato de dizer as três frases já o ajudarão. Agora deve estar claro por que chamamos a ferramenta de Inversão do Desejo. Você pegou o seu desejo normal de evitar a dor e inverteu-o, transformando-o num desejo de enfrentá-la. COMO A INVERSÃO DO DESEJO DOMINA A DOR O uso regular do Método revela o segredo sobre a dor que permite que você a domine: a dor não é absoluta. O modo como você experimenta a dor muda de acordo com a maneira como você reage a ela. Quando você avança em direção a ela, a dor encolhe. Quando se afasta dela, a dor cresce. Como um monstro num sonho, se você foge da dor, ela o persegue. Se você confronta o monstro, ele vai embora. É por isso que o desejo é uma parte crucial da ferramenta. Ele faz com que você continue avançando em direção à dor. Você não está desejando a dor porque é masoquista; está desejando a dor para poder encolhê-la. Quando estiver confiante em conseguir fazer isso sempre, é porque dominou seu medo da dor. O desenho a seguir ilustra como isso funciona. Desta vez, quando o bonequinho deixa a Zona de Conforto, ele tem uma atitude totalmente diferente. Não apenas não está tentando evitar a dor, ele a deseja. É esse desejo que o coloca em movimento; como dissemos, quando você está avançando em direção a ela, a dor encolhe e se torna menos intimidadora. Você agora pode atravessá-la para entrar num mundo expandido, de infinitas possibilidades. Meu pai me deu a primeira lição sobre o poder de avançar em direção à dor quando me ensinou a pegar jacaré nas ondas do mar. A primeira lição foi sobre como entrar na água gelada. Você tem que mergulhar o corpo todo de uma vez, sem pensar. Costumávamos sair correndo em direção ao mar o mais rápido que podíamos, então mergulhávamos o mais fundo que conseguíssemos. Era um choque, mas nós já estávamos pegando jacaré enquanto os outros banhistas ainda estavam se torturando, tentando entrar na água centímetro por centímetro. Em retrospecto, me dou conta de que essa foi a primeira vez em que fui incentivado a avançar em direção à dor voluntariamente. QUANDO USAR A INVERSÃO DO DESEJO Eu e Vinny fizemos a Inversão do Desejo passo a passo em meu consultório várias vezes, até ter certeza de que ele conseguiria usar o Método sozinho. “Me dá uma sensação de energia, como se eu estivesse malhando”, ele admitiu. “E então, quando é que eu tenho que fazer isso?” Era uma boa pergunta, que se aplica a cada uma das ferramentas que apresentamos neste livro. Tão importante quanto aprender uma ferramenta é saber quando usá-la. Descobrimos que isto não pode ser deixado ao acaso. Para cada ferramenta, há um conjunto de momentos facilmente reconhecíveis que requerem seu uso. Chamamos esses momentos de “deixas”, como uma deixa que indica a um ator quando dizer sua fala. Utilize a ferramenta imediatamente toda vez que reconhecer uma deixa. Para a Inversão do Desejo, a primeira deixa é óbvia: sempre que estiver prestes a fazer algo que quer evitar. Digamos que você tem de ligar para alguém que o intimida ou que precisa focar no trabalho, mas se sente inquieto e distraído. Nesses momentos, concentre-se na dor exata que sentiria se iniciasse a ação. Use a ferramenta naquela dor (várias vezes, se necessário) até conseguir sentir a energia do passo final empurrando-o para a frente. Não pare para pensar – deixe que ela o leve diretamente a executar a ação que você está evitando. A segunda deixa não é tão óbvia porque ocorre em seus pensamentos. Todos nós compartilhamos o mesmo mau hábito. Quando temos de fazer algo que consideramos extremamente desagradável, começamos a pensar a respeito daquilo em vez de fazê-lo de fato: Por que tenho que fazer isso? Não consigo fazer isso, vou fazer semana que vem etc. Pensar não ajuda você a agir diante da dor; na verdade, normalmente faz com que você evite ainda mais agir. A única maneira como seus pensamentos podem ajudá-lo a dominar a dor é se eles fizerem com que você use a Inversão do Desejo. Essa é a segunda deixa: cada vez que você se pegar pensando na temida tarefa, pare de pensar e use a ferramenta. Essa deixa treina você para usar a ferramenta naquele exato momento. Não importa quão longe esteja a ação, a força que você precisa para avançar só pode ser gerada no presente. Cada vez que você usa essa segunda deixa, está efetuando um depósito numa conta bancária invisível; mas em vez de depositar dinheiro, estará depositando energia. Com o tempo, terá economizado o suficiente para agir. Vinny teve a oportunidade de testar essa tese. Parte da meta de fazer uma limpeza em sua vida envolvia uma ligação para o poderoso dono de clube em quem ele havia dado o cano. Pedir a ele um emprego já era intimidador o suficiente. Como se não bastasse, agora Vinny tinha também de lhe pedir perdão. Sua deixa para usar a Inversão do Desejo passou a ser o pensamento: “Não adianta, não vou conseguir.” Depois de duas semanas disso, ele chocou a si mesmo e fez a ligação. Cinco dias se passaram sem que o cara retornasse sua ligação, o que deu a Vinny uma chance de usar a ferramenta mais algumas centenas de vezes. Finalmente, a temida ligação aconteceu. O dono do clube deu uma baita bronca em Vinny. “Foram os cinco minutos mais longos da minha vida”, Vinny disse. Então o dono do clube recebeu outra ligação e colocou Vinny em espera “por outros malditos cinco minutos”. Vinny usou a Inversão do Desejo para se manter firme, esperando mais insultos – porém a outra ligação tinha sido um cancelamento de um comediante para aquela mesma noite. O dono do clube ofereceu o horário para Vinny, que “arrasou”. A reviravolta de sua situação deixou Vinny atordoado – ou, nas palavras dele: “Puta sorte, né?” O BENEFÍCIO SECRETO: TRANSFORMAR DOR EM PODER Na verdade, aquilo não teve nada a ver com sorte. Vi isso acontecer repetidas vezes: um paciente faz um esforço real para avançar e, de repente, pessoas e oportunidades surgem como que por mágica para ajudá-lo no caminho. Eu mesmo vivenciei isso em minha própria trajetória antes mesmo de ter ouvido falar no Método. Para mim, o prestígio automático e a alta remuneração de uma carreira em direito eram uma gaiola dourada – uma espécie de Zona de Conforto. Para fazer com que minha vida voltasse a avançar, eu precisava largar o escritório de advocacia. Decidi me tornar um psicoterapeuta, mas sabia que seriam necessários quatro anos para obter uma qualificação plena. Como é que eu iria me sustentar durante esse tempo? Sem esperar muito, enviei meu currículo para dezenas de advogados, à procura de um emprego de meio expediente. A maioria me recusou. Quando estava começando a me desesperar, recebi um telefonema do nada de um advogado que tinha estudado na mesma faculdade que eu. Ele caiu do céu. Deixou que eu trabalhasse tantas horas quanto quisesse e até me apresentou ao direito de família, um campo no qual eu pude começar a afiar minhas habilidades psicoterapêuticas. Eu não poderia ter feito a transição sem a ajuda dele. Logo que comecei a trabalhar como psicoterapeuta, tive certeza de que havia faltado algo em meu treinamento. Não estava ajudando as pessoas tanto quanto sabia que poderia ajudá- las. Estava constantemente à procura de alguém que me ensinasse como fazê-lo. Apesar de repetidas decepções, eu estava determinado a continuar procurando. Foi isso que me levou a assistir ao seminário com Phil. Claramente, para mim, ele representou um daqueles casos “de sorte”. Ele nunca hesitou em responder minhas perguntas – e eu o inundava com milhares delas. Ao contrário dos outros, ele nunca levava para o lado pessoal nem se esquivava de mim se eu contestava suas respostas. Era como ter uma enciclopédia interativa com respostas para perguntas que eu vinha fazendo por toda a minha vida. Se esses encontros casuais e essas oportunidades súbitas não eram sorte, então o que eram? O explorador escocês W. H. Murray, que viveu no século XX, ofereceu a seguinte explicação: “No momento em que nos comprometemos firmemente, a Providência também começa a agir... criando a nosso favor todo tipo de incidente, encontro e auxílio material imprevistos, que homem nenhum poderia sonhar que encontraria em seu caminho.” “Providência” é um termo antiquado, mas é o certo. Tem a conotação de apoio e orientação que vêm de algo maior que você. O que Murray estava dizendo era que sua força propulsora o coloca em sincronia com o movimento superior do universo, permitindo que você se valha das inúmeras oportunidades que ele pode lhe fornecer. Esse auxílio inesperado é um dos muitos benefícios que as forças superiores podem lhe oferecer. Ele está sujeito às mesmas regras que discutimos antes: você não consegue controlar essas forças de fora; é preciso se tornar semelhante a elas para ter acesso à sua energia. É fácil levar isso ao extremo da simplificação. Um paciente meu trabalhou duro por diversas noites e fins de semana para formular uma proposta única e criativa para seu chefe, mas quando finalmente criou coragem para apresentar sua ideia, seu chefe a rejeitou. “Você me disse que se eu avançasse, o universo me ajudaria”, ele reclamou. Essa resposta demonstra como a mente moderna em geral interpreta de maneira equivocada as forças superiores. Ela quer torná-las previsivelmente controláveis. Sim, avançar é uma maneira poderosa de se conectar com as forças superiores. Contudo, essas forças são, no fim das contas, um mistério; elas funcionam de maneiras que quase sempre estão além da compreensão imediata. O universo não é um animal que você pode treinar para recompensá- lo toda vez que você andar para a frente. Na verdade, a crença ingênua de que isso aconteceria é simplesmente outra versão da Zona de Conforto. Conforme os pacientes aprendem a trabalhar com as forças superiores, deparam-se ainda com outro mistério. Sentem que seus poderes estão crescendo quando, aparentemente do nada, algo ruim acontece. Com frequência, eles ficam indignados, como se sua conexão com as forças superiores devesse, como num passe de mágica, torná-los imunes à adversidade. É uma reação que sugere uma imaturidade espiritual. O verdadeiro adulto aceita que existe uma diferença fundamental entre as metas que temos para nós mesmos e as metas que o universo tem para nós. Em geral, os seres humanos querem obter sucesso no mundo exterior – construir um negócio bem-sucedido ou, digamos, encontrar o amor de sua vida. O universo, no entanto, não se importa com nosso sucesso exterior; sua meta é desenvolver nossa força interior. Nós nos importamos com o que alcançamos do lado de fora; o universo está interessado em quem somos do lado de dentro. Isso explica por que a adversidade não para mesmo depois de avançarmos. A adversidade é apenas a única maneira pela qual o universo pode aumentar nossa força interior. Todo mundo entende que, para desenvolver um músculo, é preciso submetê-lo à resistência, na forma de um peso. Essencialmente, a adversidade é o “peso” que nos ajuda a desenvolver nossa força interior. Testemunhei a incrível resiliência que as pessoas podem adquirir quando lutam contra a adversidade. Tratei uma mulher cujo marido cuidava de todas as finanças do casal. Depois que ele morreu, ela enfrentou a assombrosa tarefa de dominar os princípios básicos das finanças. Ainda assim, menos de um ano após a morte do marido, ela não apenas abriu um negócio bem-sucedido como também se tornou menos passiva em seus relacionamentos. Já vi isso acontecer até com crianças: uma adolescente se refugia em sua única amizade – a abelha rainha alpinista social da turma, que a dispensa com uma mensagem de texto abrupta: “Estou cansada de fingir ser sua amiga.” A mãe fica preocupada, com medo de que essa seja uma experiência traumática da qual a filha nunca se recuperará. Em vez disso, a menina é forçada a se aproximar de outras garotas e descobre que é bastante popular por si própria. Suas amizades se aprofundam e sua autoestima acaba crescendo. Existe uma força interior escondida que você só consegue encontrar quando se esforça para superar a adversidade. Friedrich Nietzsche, um ousado pensador do fim do século XIX, foi quem melhor a definiu, em seu famoso aforismo: “O que não me mata, me fortalece.” Sua ideia de que a adversidade tem um valor positivo era nova. No entanto, quando citei Nietzsche para Vinny, ele revirou os olhos e retrucou: “Escuta, Harvard, eu não sou tão idiota quanto pareço. Eu sei um pouco sobre Nietzsche. Ele era muito bom de papo, mas não vivia exatamente como Indiana Jones.” Vinny tinha razão, Nietzsche era quase um eremita. Isso não deveria ser surpresa. A filosofia é criada por intelectuais que raramente se perguntam como aplicar suas ideias à vida real. Quando seu porão inunda ou você é abandonado por seu cônjuge, seus pensamentos não se voltam para Nietzsche. Todos temos a mesma reação nesses momentos: “Isso não deveria estar acontecendo comigo.” Por mais natural que essa reação pareça, ela é, na verdade, insana: você está se recusando a aceitar um evento que já aconteceu. Não existe maior perda de tempo. Quanto mais você reclama, mais empacado fica. Existe um termo comum para alguém que se deixa chafurdar na dor dessa maneira: vítima. A vítima pensa que sabe como o universo deveria funcionar. Quando não é tratada da maneira que “merece”, conclui que o mundo está contra ela. Isso se torna sua justificativa para desistir e se retirar para sua Zona de Conforto, onde pode parar de tentar. Não é preciso filosofia para perceber que a vítima não está crescendo nem se fortalecendo. A declaração de Nietzsche faz parecer que a própria adversidade nos fortalece. Não é verdade. A força interior só vem para aqueles que avançam diante da adversidade. Isso é impossível para uma vítima. Sua energia é gasta insistindo que o acontecimento adverso nem sequer deveria ter ocorrido. Ela só consegue recuperar essa energia quando aceita o acontecimento, independentemente de quão doloroso tenha sido. Porém aceitar coisas ruins exige muito esforço. É aqui que entra a Inversão do Desejo. Ela contorna sua opinião sobre como as coisas deveriam ser e lhe fornece uma maneira ativa de aceitá-las como são. Isso é um pouco diferente de usá-la para se preparar para a dor futura. A ferramenta em si funciona da mesma maneira, mas a dor visada está no passado (ainda que apenas alguns minutos no passado). Na verdade, você está se treinando para desejar aquilo que já aconteceu mesmo. Quanto mais cedo e mais frequentemente você utilizar a ferramenta quando algo ruim acontecer, o mais rápido conseguirá se recuperar. Para algumas pessoas, essa será a primeira vez em suas vidas que enfrentam a adversidade sem se sentirem como vítimas. Com a Inversão do Desejo, a ideia de Nietzsche se torna realidade. Pelo menos em se tratando de acontecimentos adversos menores, como atrasos devido a congestionamentos ou um defeito na máquina copiadora. Você começa a se recuperar dessas coisas mais rápido do que achava ser possível; sua tolerância à frustração cresce. Mas e quando algo horrível acontece? Você perde todas as suas economias ou perde um filho. É possível – ou mesmo psicologicamente saudável – aceitar um acontecimento que destrói a estrutura de sua vida? Existiu pelo menos uma pessoa com autoridade para responder a essa pergunta – um famoso psiquiatra austríaco chamado Viktor Frankl. Contudo, sua autoridade não vinha de suas credenciais, mas sim de ter vivido o impensável. Ele foi escravizado em quatro campos de concentração nazistas, onde sua mãe, seu pai, seu irmão e sua esposa foram mortos. Recusando-se a se entregar, ele se tornou médico de um dos campos. Lá, Frankl lutou para manter a resiliência de prisioneiros que, como ele, haviam perdido tudo, inclusive sua razão de viver. Ele resumiu sua resposta ao sofrimento em seu livro Em busca de sentido. Sua incrível conclusão foi que, mesmo sob condições indescritivelmente duras – insônia, fome e a ameaça constante da morte –, havia uma oportunidade de aumentar a força interior. Na verdade, essa era a única coisa que os nazistas não podiam tirar de um prisioneiro. Nos campos, os nazistas controlavam tudo – não só os pertences como também a própria vida dos prisioneiros e de seus entes queridos. Porém os nazistas não podiam tirar de suas vítimas a determinação de crescer internamente no tempo que lhes restasse. Por mais desoladora e frágil que fosse a vida nos campos de concentração, afirmou Frankl, ainda apresentava “uma oportunidade e um desafio. Os prisioneiros podiam fazer dessas experiências uma vitória, transformando a vida num triunfo interior, ou podiam ignorar o desafio e simplesmente vegetar”. Era justamente “uma situação externa excepcionalmente difícil que dá ao homem a oportunidade de crescer espiritualmente além de si mesmo”. Essa força espiritual interna às vezes possibilitava que prisioneiros fisicamente menos resistentes sobrevivessem aos campos melhor do que aqueles mais robustos. Frankl afirmou o que observamos anteriormente – que quaisquer que sejam as suas metas pessoais no mundo exterior, a vida tem suas próprias metas para você. Se houver um conflito entre essas diferentes metas, a vida vencerá. Nas palavras dele: “Na verdade, não importava o que nós esperávamos da vida, mas sim o que a vida esperava de nós.” Era preciso descobrir o que a vida estava pedindo de você – ainda que fosse simplesmente suportar seu sofrimento com dignidade, se sacrificar por outra pessoa ou sobreviver a mais um dia sem sucumbir ao desespero – e assumir o desafio. Esse caminho desenvolve o que mais falta em nossa sociedade voltada para o mundo exterior: uma “grandeza interior”. Fomos condicionados a associar grandeza a pessoas que alcançaram poder ou fama no mundo exterior, como Napoleão ou Thomas Edison. Damos pouco valor a uma grandeza interior, que pode ser desenvolvida por qualquer um, independentemente de sua condição social. Contudo, é somente essa grandeza interior que dá sentido a nossas vidas; sem ela, nossa sociedade se torna uma casca vazia. A idolatria do sucesso exterior cria uma fixação egoísta em alcançar nossas próprias metas. A grandeza interior, por outro lado, se desenvolve somente quando a vida torna nossas metas impossíveis. Enfrentamos então uma luta pessoal para conciliar nossos planos com aquilo que a vida tem planejado para nós. Somos forçados a nos tornar altruístas, a dedicar nossas vidas a algo maior que nós mesmos. O livro de Frankl é um relato de seu triunfo sob circunstâncias extremas. Sua verdadeira grandeza estava em ter encontrado significado na desoladora privação de um campo de concentração, não em seu sucesso posterior como um famoso psiquiatra. MEDO E CORAGEM A última coisa que a Inversão do Desejo pode fazer por você talvez seja a mais importante de todas: ela lhe permite desenvolver coragem. Sempre fiquei confuso com o fato de a psicoterapia não tratar diretamente da necessidade de coragem – é algo que faltava a todos os pacientes que já tratei. Porém, como o resto de nós, os terapeutas a enxergam como uma espécie de poder mítico, existente apenas em heróis que desconhecem o medo humano, não como um tópico relevante da psicologia. Esse tipo de herói só existe nos filmes. A verdadeira coragem ocorre em seres humanos normais, pessoas com os mesmos medos que todos nós. Quase sempre, suas demonstrações de coragem são um mistério – a própria pessoa não tem ideia de onde surgiram. Phil nunca viu a coragem como um poder mítico nem como um mistério. Ele a definiu de uma maneira prática e humana, colocando-a ao alcance de qualquer um. A coragem é a capacidade de agir diante do medo. A razão pela qual isso parece impossível para a maioria das pessoas é a maneira como vivenciamos o medo. O medo está quase sempre ligado a uma imagem que temos de algo terrível que acontecerá no futuro. Se eu me manifestar, vou ser despedido. Se eu começar meu próprio negócio, irei à falência. Quanto mais você se fixa nessa imagem futura, mais paralisado fica – incapacitado de agir até ter certeza de que o evento não acontecerá. Mas esse tipo de certeza é impossível. É difícil admitir isso, mas toda a nossa cultura é baseada na mentira de que é possível ter certeza com relação ao futuro. Estude na escola certa, coma as comidas certas, compre as ações certas e seu futuro estará garantido. Para desenvolver coragem, é preciso abandonar essa ilusão da certeza do futuro. Isso o deixará livre para se concentrar no presente – o único lugar onde você pode encontrar a coragem para agir. Eu já havia lido sobre “permanecer no presente” antes de ter conhecido Phil, mas sempre enxerguei isso como um clichê do pensamento alternativo. Reconsiderei minha opinião quando ele me ensinou um processo concreto, passo a passo, para atrair e explorar o poder do presente. O primeiro passo é aprender a experimentar o medo sem a imagem mental do temido evento futuro. Concentre toda a sua atenção na sensação de medo atual, no presente. Quando você tiver separado o medo daquilo que teme no futuro, ele se tornará apenas outro tipo de dor a ser processado com a Inversão do Desejo. A ferramenta funciona exatamente da mesma maneira como você já a vem utilizando. Você pode substituir a palavra “dor” por “medo” ou simplesmente lembrar que o medo é um tipo de dor. De qualquer forma, a energia que a Inversão do Desejo gera lhe permitirá agir. Com a prática, você perceberá que aquilo que o amedronta não faz diferença; você poderá lidar com toda situação de medo da mesma maneira. Se desejar o medo parece loucura, lembre-se de que você não está desejando o acontecimento terrível, somente a sensação de medo que ele traz. É um paradoxo: somente ao desejar o medo você conseguirá agir em sua presença – que é a definição de coragem. Coragem não é algo que possa ser acumulado. O medo volta rapidamente, junto com a imagem do temido evento futuro, levando você para fora do presente. Se sua intenção de viver com coragem for para valer, condicione-se a usar a Inversão do Desejo no momento em que sentir medo. Você ficará impressionado ao descobrir que, quando isso se torna um reflexo – e você não precisa sequer pensar no futuro –, você passa a agir com uma ousadia que jamais teve na vida. Phil descreveu o processo como uma luta para voltar ao presente. Permanecer no presente não é um estado de passividade mística, é um processo ativo que exige esforço. A meta é se sentir suficientemente confortável com o medo para poder agir. Agora, se você estiver buscando uma audácia sobre-humana, é melhor ir ao cinema. PERGUNTAS FREQUENTES 1. Tenho que usar a Inversão do Desejo toda vez que faço algo que preferiria evitar, toda vez que penso em algo que preferiria evitar e toda vez que algo ruim acontece. Como vocês esperam que eu faça todo esse trabalho além de todos os outros acontecimentos em minha vida? Todas as ferramentas que apresentamos neste livro exigem muito esforço. Num determinado ponto você provavelmente vai sentir que é demais. Às vezes nós também nos sentimos sobrecarregados demais para usar o Método. Mantenha em mente que toda a nossa cultura resume-se a conseguir o máximo possível com o mínimo de esforço. Vamos dedicar um capítulo inteiro só a esse assunto – o Capítulo 6. Por enquanto, será útil entender um estranho paradoxo a respeito das ferramentas: embora requeiram energia no início, elas aumentam sua energia a longo prazo. Então, se parece que estamos lhe pedindo que você faça mais do que já está fazendo, é porque já vimos os resultados: a vida fica mais fácil quando você usa as ferramentas. Se você for honesto, sem a Inversão do Desejo você fica empacado na Zona de Conforto e em sua energia reduzida. Não importa quão difícil seja para você usar a ferramenta, sua recompensa ao deixar esse estado de paralisia será dez vezes maior. Use-a e veja por si mesmo como se sentirá melhor. Além do mais, usar uma ferramenta leva em torno de três segundos. Se você usar uma ferramenta vinte vezes por dia, gastará apenas um minuto do seu dia. Considerando os incríveis resultados que você conseguirá, temos certeza de que chegará à conclusão de que está saindo no lucro. 2. Eu segui as instruções para a Inversão do Desejo, mas não senti nada. Aprender a usar as ferramentas é como qualquer outra habilidade. Leva tempo para dominar. Você não pegaria um violino pela primeira vez e esperaria saber tocá-lo. Em nossa sociedade, exigimos resultados imediatos. No momento em que não os conseguimos, nossa tendência é desistir. Esses momentos – quando você quer desistir – são os momentos em que é mais importante não desistir. Na verdade, você deve criar o hábito de usar a Inversão do Desejo justamente no momento em que mais duvidar dela. Isso não é para provar que a ferramenta funciona, é para desenvolver a atitude certa: “Quando não consigo resultados imediatos, me comprometo ainda mais a utilizar a ferramenta.” Isso lhe dará um prazo para se tornar um verdadeiro praticante da ferramenta. Se esse nível de compromisso não lhe trouxer resultados, então você poderá parar de usar a ferramenta sabendo que ao menos deu a ela um julgamento justo. 3. Será que essa ferramenta não convida elementos ruins a entrarem em minha vida? Essa é a objeção mais comum à Inversão do Desejo, mas é também a mais fácil de refutar. Pense. Quem está atraindo coisas ruins, a pessoa que está usando a Inversão do Desejo para confrontar a dor ou a pessoa que não consegue comparecer a uma reunião que vai mudar sua vida? Ainda assim, as pessoas têm medo de que, ao desejar uma situação negativa, a ferramenta possa de fato causar a ocorrência dessa situação. Nós nos referimos a isso como “objeção californiana”, pois suas raízes estão no misticismo que virou moda na região em que ambos vivemos e trabalhamos. Essa objeção é baseada num mal-entendido. A ferramenta o prepara para desejar a dor que você associa com um evento específico, não o evento em si. É por isso que as instruções o orientam a “esquecer a situação e se concentrar na dor”. A finalidade disso é que você fique livre para agir. Se existe uma chave para influenciar o futuro, é através da ousadia da ação. Pode ser reconfortante acreditar que seus pensamentos podem controlar diretamente eventos futuros, mas o que observamos é que os pacientes que mais acreditam nessa ideia costumam ser aqueles que evitam ter de tomar uma atitude. 4. Eu já sofri o suficiente na minha vida. Quando é que isso vai parar? Faz parte da natureza humana pensar que sabemos quando já sofremos o suficiente e querer uma folga dos nossos problemas. Mas a vida não funciona assim. Pode ser que haja muitas coisas positivas em seu futuro – grandes alegrias e realizações. Porém, inevitavelmente, a vida nunca o isentará de enfrentar a dor. Quando você aceitar isso, sua meta não será mais acabar com a dor e o sofrimento, mas sim aumentar sua tolerância a eles – que é exatamente o que a Inversão do Desejo fará por você. Isso leva a uma forma muito mais positiva de enxergar a dor. A dor é a maneira que o universo encontrou de exigir que você continue a aprender. Quanto mais dor você consegue tolerar, mais pode aprender. Neste capítulo, o que você está aprendendo é a AVANÇAR a despeito da adversidade. Todo evento doloroso faz parte desse preparo. Somente ao aceitar isso você poderá desenvolver por inteiro seu potencial. Quando você enxergar a vida dessa forma, não pedirá que a dor pare, pois isso seria como pedir que seu aprendizado parasse. 5. Não é masoquismo desejar a dor? Depende do tipo de dor. Há dois tipos diferentes: um necessário e um desnecessário. A dor necessária é aquela pela qual você precisa passar para alcançar suas metas. Se você é vendedor, a rejeição é uma dor necessária. A dor desnecessária é aquela que normalmente chamamos masoquista. Ela não só não é parte de sua jornada adiante, como sua finalidade é mantê-lo empacado. Esse tipo de dor costuma ser masoquista. O masoquista inflige dor a si mesmo sob seu próprio controle e o faz da mesma maneira repetidamente. Ele utiliza a familiaridade previsível de sua dor escolhida para, na verdade, se manter dentro de sua Zona de Conforto. 6. Por que eu deveria utilizar a ferramenta? Não sinto dor nem medo nenhum na minha vida. Já tivemos pacientes que disseram isso com a cara mais séria do mundo. Às vezes, estão mentindo – acham que é uma fraqueza admitir que sofrem ou sentem medo. Normalmente, leva um tempo para convencê-los de que é mais forte admitir e conquistar esses sentimentos do que negá-los. Mas uma outra parcela não está mentindo: algumas pessoas de fato não sentem dor ou medo. Infelizmente, a razão é que elas estão tão enfurnadas na Zona de Conforto que nem sequer percebem que há um mundo inteiro de outras possibilidades fora dali. Esse tipo de pessoa, na verdade, tem mais medo que a maioria; ela simplesmente lida com o medo negando que desejam alguma coisa a mais de sua vida. No caso dessas pessoas, tentamos fazer com que identifiquem novas metas. Pode ser extremamente difícil, mas todo mundo consegue identificar alguma coisa que não tem e que desejaria ter. Quando pedimos que elas visualizem os passos específicos que teriam de tomar para alcançar a meta, há sempre pelo menos um passo que as intimida. É então que elas são forçadas a admitir que estão evitando a dor. Na hora, elas nem se dão conta disso, mas esse reconhecimento é o primeiro passo para retornar à terra dos vivos. 7. Conheço alguém que está sempre avançando, mas eu não gostaria de ser assim, porque essa pessoa nunca relaxa nem aproveita a vida. Esse tipo de hiperatividade não é o que queremos dizer quando nos referimos à força propulsora; na verdade, é apenas outra forma de fuga. Essas pessoas estão usando a hiperatividade para se distrair de seus sentimentos – de terror, fracasso ou vulnerabilidade. Em consequência, nunca conseguem relaxar. É como se estivessem constantemente ouvindo passos atrás de si e não pudessem parar de correr. “Força propulsora” significa algo diferente para cada um de nós. A Inversão do Desejo lhe dá a força para enfrentar o que quer que você esteja evitando. Às vezes, é uma situação externa, mas é igualmente possível que seja uma emoção interna que o esteja incomodando. Descobrimos que as pessoas que não fogem das situações na verdade conseguem descansar e relaxar melhor que as outras. É apenas quando você encara aquilo que teme – dentro ou fora de você – que sua mente consegue relaxar. Essas pessoas se sentem menos intimidadas pelo mundo, mais satisfeitas com seus próprios esforços. Isso as torna menos preocupadas e ansiosas e, quando chega a hora de relaxar, elas conseguem desligar suas mentes; não são atormentadas por todas as coisas que estão evitando. OUTROS USOS DA INVERSÃO DO DESEJO A Inversão do Desejo lhe permite expandir seu círculo profissional e social. Todos nós conhecemos pessoas com as quais gostaríamos de ter um vínculo, mas das quais nos sentimos inseguros demais para nos aproximar. A verdade é que nos perguntamos se estamos realmente no mesmo nível que elas. É mais fácil se associar apenas com pessoas que não representam nenhuma ameaça. Essa é, na realidade, uma forma de fuga que o impede de viver plenamente. Marilyn estava na casa dos trinta e era bastante atraente, porém solitária. Tinha sempre um grupo de rapazes atrás dela, mas nenhum jamais a satisfazia. Porém, seu verdadeiro problema estava na maneira como enxergava o mundo dos homens. Marilyn acreditava que havia um grupo “A” de homens – mais ricos, mais atraentes, mais charmosos – com os quais ela nunca conseguia namorar. Mas quando era apresentada a um deles, ela agia de maneira distante. No fundo, se sentia intimidada por esses homens e não queria que eles a convidassem para sair. Os homens que ela de fato namorava eram sempre do grupo “B”. Embora ela reclamasse de seus defeitos, eles representavam sua Zona de Conforto. Enquanto namorasse esse tipo de homem, não corria o risco de encontrar alguém que realmente lhe interessasse. Toda vez que se aproximava de homens do grupo “A”, ela tinha de usar a Inversão do Desejo para lidar com sua ansiedade. A certa altura, ela conseguiu se abrir e agir naturalmente. A Inversão do Desejo lhe permite exercer autoridade. Uma das coisas mais difíceis de ser um líder – seja você o chefe de um departamento, de uma empresa inteira ou mesmo de uma família – é que você precisa tomar decisões que deixam as pessoas insatisfeitas. É por isso que dizem que “o topo é um lugar solitário”. O verdadeiro líder consegue tolerar a insatisfação dos outros. Elizabeth era professora universitária e tinha acabado de ser nomeada diretora de seu departamento. Embora fosse reconhecida nacionalmente em sua área, era uma pessoa acessível e modesta. Sua natureza era tratar a todos como amigos. Todo mundo gostava dela: os alunos, os outros professores e até os faxineiros. Contudo, isso significava que seu ambiente de trabalho era uma Zona de Conforto. Isso não podia continuar depois que ela se tornou diretora. Seria impossível ser amiga de todo mundo. Ela precisava tomar decisões a respeito de nomeações de professores, planejamentos, férias, questões disciplinares etc., e cada decisão desagradava alguém. Isso era tão incômodo para ela que Elizabeth começou a adiar as decisões, até que o caos tomou conta do departamento. Para manter seu emprego, ela sabia que precisava se forçar a tomar decisões impopulares. Ela começou a usar a Inversão do Desejo para lidar com a dor de não ser querida pelas pessoas. Ela conseguiu deixar de ser amiga de todo mundo e se tornou uma líder eficaz. Elizabeth acabou percebendo que havia questões de liderança em qualquer relacionamento e que, com frequência, as pessoas à sua volta precisavam que ela agisse como líder tanto quanto precisavam que agisse como amiga. Consequentemente, todos os seus relacionamentos melhoraram. Os amigos e colegas que ela conhecia havia anos gostaram da nova clareza e do foco que ela trouxe para suas decisões. Isso lhe deu uma confiança que ela nunca sentira antes. Até como mãe ela melhorou; agora que conseguia impor limites à filha adolescente, suas conversas se tornaram mais honestas, o que foi um alívio para ambas. A Inversão do Desejo supera fobias. Uma fobia é um medo ou uma aversão irracional a algo – como aranhas ou espaços apertados. Seu efeito é colocar certas partes da vida fora de seu alcance. Até em formas moderadas, fobias podem interferir no seu rendimento no trabalho e em seus relacionamentos. A ferramenta lhe dá a coragem para se colocar em situações que sua ansiedade havia posto fora de alcance. A vida pode se abrir novamente. Michael era um engenheiro que precisava viajar por todo o país a trabalho. Infelizmente, ele havia desenvolvido um medo de viajar de avião que ameaçava destruir sua carreira. No momento em que a comissária de bordo fechava a porta do compartimento de passageiros, a respiração de Michael acelerava e seu peito se apertava. Com frequência, isso acabava progredindo para uma crise de pânico, e ele tinha certeza de que estava condenado. Em casa, só de pensar em viajar de avião, a ansiedade tomava conta dele. Michael usou todo tipo de desculpa para evitar essas viagens, até que ficou óbvio para seu chefe. Usando a Inversão do Desejo sempre que ficava com medo, com o tempo ele conseguiu superar sua fobia de viajar de avião. O medo não conseguia mais impedi-lo. A Inversão do Desejo lhe permite desenvolver habilidades que requerem disciplina e um compromisso de longo prazo. A maior diferença entre aqueles que são bem-sucedidos e aqueles que fracassam em qualquer empreendimento é seu grau de compromisso. A maioria das pessoas gostaria de ser empenhada, mas, na prática, o compromisso requer uma série interminável de pequenas ações dolorosas. Quando uma pessoa não consegue lidar com essa dor, seu comprometimento desmorona. Jeffrey trabalhava para a polícia como patrulheiro. Não era a carreira que ele queria. Antes de largar a faculdade, estudava Letras e escrevia bem, embora soubesse que nunca havia alcançado todo o seu potencial como escritor por pura preguiça. “Minhas ideias são boas. Só não sei ao certo se consigo colocá-las no papel.” Isso não tinha nada a ver com sua capacidade. Ele escolhera uma saída fácil: contar histórias para seus colegas policiais em bares depois do trabalho. Isso era especialmente fácil para ele devido ao álcool que ingeria. Colocar essas histórias no papel requeria um nível de comprometimento muito maior. O que ele achava mais doloroso era o grau de concentração que precisava ter. A concentração exige se fechar para o resto do mundo e focar numa só coisa. Para a maioria de nós, esse esforço é extremamente doloroso. Sem dúvida o era para Jeffrey. Usando a Inversão do Desejo para enfrentar essa dor, ele foi capaz de dedicar o tempo e a energia necessários para iniciar a carreira como escritor que realmente desejava. A Inversão do Desejo lhe dá uma nova perspectiva sobre dinâmicas familiares que existe desde a infância. Experimente o seguinte: pense em algo que você se habituou a evitar quando criança. Qual era a natureza específica da dor que você estava evitando? Agora, feche os olhos, projete-se naquela criança e aplique a Inversão do Desejo na dor. Imagine-se usando essa ferramenta na infância – automaticamente, sempre que surgir a vontade de evitar algo, dia após dia, ano após ano. Veja se consegue obter uma compreensão de como sua vida seria diferente hoje; não as circunstâncias externas, mas dentro de si. Qual é a sensação que você tem? Desde quando Juanita era pequena, sua mãe expressava seu desapontamento nas ocasiões em que ela fazia algo que a mãe não aprovava. O medo dessa desaprovação fazia com que Juanita não expressasse partes de sua história que poderiam desapontar sua mãe. O resultado é que sua mãe nunca a conheceu de verdade. Ao fazer o exercício proposto, Juanita percebeu que se ela tivesse superado a dor de se revelar, teria deixado de esconder alguns aspectos de si mesma. Isso, por sua vez, teria permitido que a sua mãe a aceitasse, liberando a mãe de expressar seu verdadeiro amor por todos os aspectos de sua filha. RESUMO DA INVERSÃO DO DESEJO Para que serve a ferramenta Use a ferramenta quando precisar fazer algo que você está evitando. Evitamos as coisas que nos são mais dolorosas, preferindo viver numa Zona de Conforto que limita drasticamente o que conseguimos da vida. A ferramenta lhe permite agir diante da dor e fazer com que sua vida volte a andar. Contra o que você está lutando Evitar a dor é um hábito poderoso. Quando se adia algo doloroso, o alívio é imediato. O castigo – o inútil arrependimento pela vida que você desperdiçou – só vem no futuro distante. É por isso que a maioria das pessoas não consegue avançar e viver a vida plenamente. Deixas para usar a ferramenta 1. A primeira deixa é quando você tiver de fazer algo incômodo e sentir medo ou resistência. Use a ferramenta logo antes de agir. 2. A segunda deixa ocorre apenas em sua mente, sempre que você pensa em fazer algo doloroso ou difícil. Se você usar a ferramenta toda vez que tiver esses pensamentos, desenvolverá uma força que lhe permitirá agir quando chegar a hora. Um resumo da ferramenta 1. Concentre-se na dor que você está evitando. Visualize-a à sua frente como uma nuvem. Grite mentalmente: “Pode vir”, para exigir a dor. Você a deseja porque ela tem grande valor. 2. Grite mentalmente: “Eu amo a dor”, enquanto continua avançando. Entre profundamente na dor, a ponto de você e ela se tornarem um só. 3. Sinta a nuvem cuspi-lo para fora e fechar-se atrás de você. Diga internamente: “A dor me liberta.” Ao sair da nuvem, sinta-se impulsionado a um âmbito de pura luz. A força superior que você está usando A força superior que mobiliza toda a vida se manifesta como uma incessante Força Propulsora. A única maneira de se conectar com essa força é estar impulsionando a sua vida. Porém, para fazer isso, você precisa enfrentar a dor e ser capaz de superá-la. A Inversão do Desejo lhe permite fazer isso. Quando a ferramenta o conecta à Força Propulsora, o mundo se torna menos intimidador, sua energia aumenta e o futuro parece mais promissor. CAPÍTULO 3 A Ferramenta: Amor Ativo A FORÇA SUPERIOR: ENTREGA Era minha primeira sessão com Amanda, uma mulher ambiciosa e elegantemente vestida, de vinte e poucos anos, que entrou em meu consultório com a força de um exército invasor. Estava tendo um problema com o namorado e exigia uma solução imediata. “Nós estávamos numa festa e ele, tipo, não olhou para mim nem falou comigo a noite inteira. Ele passou o tempo todo num cantinho, dando em cima de uma garota que trabalha no balcão de cosméticos de uma loja de departamentos”, ela disse, carrancuda. “Em que mundo ele vive que acha que pode se safar com isso?”, cuspiu Amanda, em tom de desdém. Um toque de celular em ritmo de Someone Like You nos interrompeu. Amanda sacou seu telefone e ladrou, “Não posso falar agora – reunião”, e sem titubear se virou para mim e continuou. “Vou explicar: eu estou abrindo uma empresa de design e confecção de roupas femininas de luxo e nós estamos numa fase ‘ou vai ou racha’, na qual ou a gente atrai muito dinheiro ou eu volto a trabalhar como garçonete”, ela disse, empinando o nariz. “Toda noite encontro com possíveis investidores. O Blake – o meu namorado – sabe que tem que ir a esses encontros e que o trabalho dele é me ajudar a causar uma boa impressão, não me humilhar com uma vadia qualquer!” Para minha surpresa, à medida que explorávamos o relacionamento dos dois, ficou claro que, em muitos quesitos, Blake era o parceiro perfeito para Amanda. Extremamente bonito e refinado, era o namorado ideal para ser “exibido” em público, e como não fazia parte do mundo da moda (era médico pesquisador), seu ego não estava envolvido na carreira dela. Ele se mostrava elegante perante o estilo volúvel e dominador dela. Na verdade, ele se enquadrava tão bem nas necessidades dela que Amanda insistiu para que eles fossem morar juntos logo depois de terem se conhecido. “Parece que o relacionamento é promissor”, arrisquei. “Claro que é. Eu nunca dediquei tanto tempo a um relacionamento quanto a este.” “É mesmo? Há quanto tempo vocês estão juntos?” “Quatro meses.” Eu comecei a rir, então percebi que ela não estava brincando. Ela retrucou num tom defensivo: “A indústria da moda é dura com relacionamentos.” Não era a indústria – era Amanda. Uma pessoa que invadiu meu consultório como um exército em guerra com certeza teria p

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